terça-feira, 12 de março de 2013

Meu Anjo


Aos 14 anos, a pé, de costas, sem camisa e enlameado, após partida de futebol sob a chuva que ainda caía, na rua de casa passa por mim um fusca que, logo pára, dá ré, até emparelhar comigo.

Vou parando enquanto o vidro do motorista se abre. Dois olhos tão azuis quanto vivos revelam o rosto de uma bela mulher que, meio sem graça, diz: “não repare na minha filha, mas ela quer lhe fazer um convite".

Ao abaixar para ver a filha no banco do passageiro, dois olhos também azuis se sobrepunham ao sorriso meio tímido de quem não sabia ao certo o que estava fazendo, mas fazia.

- Você conhece a Roberta?, apontando pra casa adiante, em frente a minha.
- Sim.
- Ela vai na minha festa. Se você quiser ir...
- Ok, embasbaquei.
- Ok. Tchau!

Caminhei sorrindo até em casa.


Desde esse dia inusitado, com convite surrealista, nunca mais nos separamos. Eu e a garota do fusca.

No início platônico, após a festa que obviamente fui, passava diante da casa dela, de bicicleta, fingindo ser um passeio normal. Ela fingia que estava na janela por algum motivo banal.

Eu tinha que vê-la! Mas, o que me movia?

Era o amor e eu não sabia.

O primeiro beijo debaixo dum limoeiro, o namoro diante da lareira, dentro de piscinas, ao som de quem queríamos, comendo o que gostávamos.

O namoro acabou, mas o amor não. Era estranha a clareza dessa sensação...

Sempre presente nos momentos importantes da minha vida, por mais que estivesse longe, foi guia quando eu me perdia. Atitudes simples dela, soluções definitivas para mim. Parecia magia.

Procurando entender aquela espécie de amor, sem uma resposta que fosse mais completa do que a sensação de amá-la, após anos, finalmente descobri.

Ela é um anjo.

O meu anjo vivo.

Serei eternamente grato a Deus por sua presença e esse amor.

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