A civilização escaparia rápida, fácil e tranquilamente do Apocalipse iminente se apenas praticasse o óbvio.
O óbvio-rei:
"Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você".
Na prática, a partir de amanhã, teríamos um mundo cada vez mais equilibrado e em paz. Sem necessidade de postagens e compartilhamentos.
Vendo o mundo como está, é óbvio que a maioria não pratica. Nem praticará.
Porque, na verdade, a maioria da humanidade, mediante seus comportamentos e, obviamente, suas leis e instituições, sofre de grave transtorno bipolar crônico e irreversível.
Um exemplo e o óbvio-príncipe:
É óbvio que a Educação é uma prioridade e é óbvio que os políticos não a exercerão.
Caso ele fosse praticado pela maioria, todos saberiam que lan house tem internet. Também saberíamos quando o aborto deve ser aceito, quando a maconha deve ser usada e quando um casal gay, assim como um hétero, está habilitado a exercer função familiar e adotar uma criança. Saberíamos que todos somos um, Terra e terráqueos, preservando-nos. Saberíamos que toda ação promove uma reação igual e contrária, para o bem e para o mal. E saberíamos eleger governantes que promovessem apenas o equilíbrio social e econômico. Assim, saberíamos que cada ser humano deve ser um cidadão livre no direito de se conhecer, para alcançar a plenitude da sua existência, dando a mesma oportunidade ao vizinho.
Contudo, mesmo tendo consciência destas duas obviedades, continuamos a postar, compartilhar, se indignar e, finalmente, ignorar outras obviedades auto-excludentes:
É óbvio que o consumismo mundial é impossível e é óbvio que o marketing não deixará de existir.
É óbvio que "dinheiro não é tudo" e é óbvio que a maioria não vai peitar seu emprego pra defender isso.
É óbvio que a Terra manda nos terráqueos e é óbvio que os terráqueos acham que mandam na Terra, exceto matando-a.
Assim como é óbvio que o jumento manda nos carrapatos que nele estão, exceto quando a infestação de carrapatos matar o jumento.
Finalmente, é óbvio entender porque a palavra "hipócrita" esteve sempre na boca de Jesus quando se dirigia aos maus detentores do poder, e é óbvio que falar de Jesus causa preconceito num estado laico, mesmo que a maioria, sem educação, não saiba o que isso significa e seus equívocos.
Diante desse impasse engessado e inerte, interpreto aqui o fim do Apocalipse de São João, pela letra de Renato Russo, que, para mim, obviamente, são a mesma coisa:
"Venha!
Meu coração está com pressa!
Quando a esperança está dispersa,
Só a verdade me liberta!
Chega de maldade e ilusão.
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera,
Nosso futuro recomeça,
Venha!
Que o que vem é perfeição!"
Cuidado com as obviedades bipolares do Carnaval (que significa "Adeus à carne!")!
E boa quaresma a todos.