sábado, 14 de junho de 2014

Flor da Pele


Em época de futebol global e conectado, ao vivo, as diferenças se acirram. De todos os níveis.

Ocorre que há diferenças.

Orgânicas. Naturais. Nem deveriam ser discutidas...

Explico.

A pele humana.

Revestimento externo do corpo de todos nós. Maior e mais pesado órgão do corpo de todos nós. Ironicamente, nela percebemos o nosso sentido mais sutil.

A pele é uma só e todos temos.

Mas, a pele do calcanhar é igual a pele do rosto?

Gasta-se o mesmo dinheiro em cremes para todas as peles?

Por que, então, devemos achar que todas as peles são iguais?

O desafio da convivência orgânica está em aceitarmos a pele que somos.

A do calcanhar não deve invejar a do rosto. Tampouco a segunda deve menosprezar a primeira. Elas têm funções diferentes. Apenas isso. Câncer, em qualquer parte da pele, mata igualmente.

Tenhamos mais consciência e aceitação de quem somos e nossas funções.

Teremos a paz.

Arrepiou?

sexta-feira, 13 de junho de 2014

De Bico

Eu votei no Luiz Ignácio. Primeiro mandato.

Apesar de vários amigos me chamarem de ingênuo, achei justo e coerente meu raciocínio de cidadão-eleitor: ouvindo dos meus pais e seus amigos de classe média, desde os meus 8 anos de idade, que o (único) problema do Brasil era a falta de educação do povo, se um sociólogo letrado e intelectual, professor-doutor universitário e criador do Plano Real, político experiente e ex-senador, em quem votei sempre, inclusive contra o Jânio à prefeitura de São Paulo, em 8 anos como presidente, não deu jeito na educação ao povo, teria a consciência tranquila se desse uma chance ao popular sem-educação.

Meus amigos tinham razão. Mesmo assim, está em mim acreditar. Mas, não sou burro. 

Dito isso, me sinto à vontade em criticá-lo. Ele e os seus.

Ontem, na abertura da Copa do Mundo de Futebol da Fifa, ao vivo para bilhões, a nossa presidente petista foi xingada, em coro. Ela e a Fifa, é bom que se diga.

Hoje, assisti a vários jornalistas, não só esportivos, criticarem duramente o xingamento, apenas à presidente, é bom que se diga, retirando o tal xingamento do contexto amplo de um ano de manifestações permanentes pelas ruas do país.

Retirar um fato do seu contexto e criticá-lo, normalmente é uma atitude nefasta de jornalistas covardes, hipócritas, tendenciosos, vaidosos e/ou oportunistas. Impossível para mim, um holístico.

Então, entre a taquicardia da indignação e o silêncio, preferi escrever este texto. Meu cardiologista vai curtir.

(Momento de petistas radicais e retrógrados abandonarem a leitura. Obrigado por virem até aqui.)

O futebol é um jogo popular. Em suas arquibancadas, todos se igualam. No mínimo, na hora do gol.

Ontem, porém, o povo estava fora do estádio, na abertura da Copa do Mundo da Fifa, no País do Futebol.

Ontem, a maioria que conseguiu chegar à arena, além de paciência e sorte, precisou de recursos próprios, acesso à internet, com educação. Mas, aquela mesma maioria não elege ninguém neste país. Há tempos.

Ontem, a plateia educada xingou a presidente e a Fifa, mas não vaiou o hino da Croácia. As coisas boas da educação são percebidas assim, naturalmente, sem que nenhum jornalista, nem ninguém, precise elogiar.

Ontem, enfim, lá estavam, em grande maioria, os não-eleitores da presidente, mas que sustentam o estado do País do Futebol, mediante os impostos retidos e não revertidos, cansados da ditadura mal-disfarçada e corrupta, nossa e da Fifa. Ambas foram xingadas. Ambas, senhoras e senhores "jornalistas".

Ontem, numa partida de futebol, xingar era do jogo. O tal grito preso na garganta de quem torce, mas é impotente, não pode vencer o jogo (do poder), pois só o assiste.

Ontem, o xingamento foi popular, sim! Portanto, legítimo. Democrático, senhoras e senhores da mídia livre, democrático!

Lá estivessem os "bolsa-total", mas com educação e recursos, provavelmente haveria o "coro-total". Sem ser totalitário.

Pensando melhor, e democraticamente, não haveria coro algum ao principal mandatário brasileiro.

Pois, provavelmente, ela não seria a nossa presidente. E, se assim fosse, qualquer presidente faria o discurso inaugural e tradicional do evento, normalmente, ontem covardemente omitido.

Que o Itaquerão de ontem esteja nas urnas de outubro! De virada!

Está em mim acreditar.

Em tempo: Ei, Dilma, VTNC!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Bandeira na Janela


Terapeuta de muitas mulheres solteiras, constatei em algumas certa aflição ao perceber que no dia de abertura da Copa, com jogo do Brasil, elas estariam sem namorado para comemorar, em dobro, a data.

E, sem querer ser sádico, na véspera do dia de Santo Antônio, uma sexta-feira, 13. A única do ano.

"Estar solteira amanhã é muito azar.", imagino seja o pensamento calado das pessimistas.

Hoje, caminhando à segunda consulta do dia, vi bandeiras brasileiras em algumas janelas.

Terapeuta de muitas mulheres solteiras, me ocorreu escrever para elas. E a todas as semelhantes.

Mostre o desejo de encontrar um namorado, de forma caprichada, consciente e explícita, com a mesma fé dos torcedores em suas janelas.

Dê bandeira.

(Desejo que conquiste e comemore. Mais do que seis vezes.)

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Antropofagia

Canibalismo seria uma tradução literal de antropofagia.

Mas, há formas bem piores de um ser humano devorar outro além da literal.

Um ambiente competitivo que leve o homem ao seu estado primitivo, animal, instintivo, e o cenário antropofágico está criado.

Quando o homem era sapiens, mas não era erectus, isso acontecia naturalmente.

Mas, desde que ficamos de pé, homens que chegam ao poder geram ambientes antropofágicos entre os homens que pretendem chegar ao poder.

O contrário também ocorre. Homens que competem para chegar ao poder criam situações para os que estão no poder se devorem.

Na história, sempre houve antropofagia. Principalmente nos impérios e coliseus. Normalmente, nas metrópoles.

A prática persiste até hoje. Ironicamente, em impérios e coliseus. Principalmente, nas metrópoles.

Em impérios empresariais. Em impérios sociais e familiares. Em impérios políticos.

Gerentes em busca da diretoria, herdeiros em busca da bufunfa, oposição em busca da situação.

Da mesma forma, diretores "avaliando" gerentes, velhos blindando fortunas, situação corrompendo a oposição.

O coliseu, hoje, é a mídia. De tão instantânea, provavelmente incorreta, devorando os concorrentes em busca de audiência.

O caos do vale-tudo. Tudo por dinheiro e, naturalmente, poder.

Na evolução da humanidade, alguns saltos positivos se deram logo após um grande momento de antropofagia.

É o que chamamos de ciclo.

Vamos percebê-lo, brevemente, quando mordermos o próprio rabo.

(Texto inspirado hoje, entre 9 e 10h, após ter andado, de carro, 6 km em 45 minutos, 15 destes parado em frente ao Palácio do "Governo", no Morumbi - que ainda se escrevia com "y" quando lá parei - e voltado pra casa. Tudo causado pelas greves do Metrô e dos agentes da CET, somadas à manutenção da Prefeitura, carpindo mato e pintando guias no em torno do estádio, preparando-o para o "amistoso" da seleção, amanhã. Caos oportunista padrão-Fifa. Imperialista. Que deve se divertir e se enriquecer enquanto nos devoramos. Em campo e fora dele.)