sábado, 30 de março de 2013

A Redenção de Judas


Não à toa, somos uma sociedade que sempre precisa de um bode expiatório para aplacar a impotência, ou a covardia, convertida em ira.

Não à toa, a figura de um bode é associada ao diabo.

O apóstolo Judas talvez tenha sido o primeiro bode expiatório diabólico da história da humanidade.

Fácil e convenientemente. Mas, injustamente.

Vamos aos fatos. E aqui constam alguns que encontrei na busca pelas respostas do quem sou?, por onde estive? e pra onde vou?,  por estradas, embora iluminadas, nem sempre asfaltadas, que ofereço às mentes abertas e aos corações aquecidos.

Judas foi o apóstolo que mais acreditou em Jesus e nas profecias que o anunciavam.

Segundo tais profecias, relembrando o que é historicamente conhecido, o Messias seria o libertador do povo judeu da opressão imperialista. Portanto, um líder político.

Porém, em suas pregações, quando já havia escolhido Judas como apóstolo, é bom lembrar, o Ungido anunciou, por três vezes, que iria morrer. Brevemente, não estarei mais entre vós.

Judas era um líder zelote, braço revolucionário (e armado) do povo judeu. Uma espécie de líder nacional da CUT, antes do Ignácio ser presidente.

Sendo assim, ouvindo aquele papo-furado do Yehoshua, que iria morrer, e, consequentemente, não iria assumir poder nenhum, tampouco libertar o povo judeu da opressão, contrariando as profecias, Judas resolveu trucar o Irmão.

Nunca jogou truco? Trucar é um tipo de aposta alta quando as cartas estão boas.

No caso, Judas apostou tudo. Oxalá estivesse com a razão...

Ele pensou:
Como o cara fez cego ver, paraplégico andar, assim como ele andou sobre as águas, encheu a rede de peixes, até morto fétido ele ressuscitou, se eu entregá-lo aos romanos, na hora H, ele vai gritar "pelos poderes de grayskull!". Ele, o He-Man da Palestina, vai derrotar os imperialistas opressores! Plano perfeito.

Judas jamais pensou em traição.

Se assim tivesse pensado não teria se suicidado.

E teria gasto as 30 moedas de ouro e não menosprezado, como consta.

Arrependimento é atitude de ignorantes. Judas era consciente do que planejara.

Assim, seguindo seu plano de fé, fé nos poderes do Filho de Deus e fé nas profecias que o anunciaram, ele foi até os romanos e disse que os levaria até o Jeová.

É importante lembrar que, como líder político revolucionário profetizado, Jesus, mesmo antes de ser o Cristo, ainda recém-nascido, foi jurado de morte e perseguido, por isso vivia escondido, protegido pelo povo judeu e simpatizantes da causa.

Ninguém, nunca, o encontrara.

Só alguém próximo - e confiável - para revelar o esconderijo.

Esse alguém foi Judas. O apóstolo fiel, em aposta ousada e perigosa. Solitário e corajoso.

Contudo, na tal hora H, após o beijo que denotava irmandade, no amor e na fé, Jesus não reagiu e se entregou. Nem a espada de Pedro ele permitiu que fosse usada, reconstituindo a orelha decepada do legionário, poupando o primeiro apóstolo dos efeitos de uma lei universal que Isaac Newton chamaria, séculos depois, de Ação e Reação.

Chocado com a não-reação, Judas desmoronou, decepcionado e frustrado.

Ele havia entregue o Emanuel, mas que não era o Salvador que esperava, embora estivesse ajudando-O a realizar a nova profecia que anunciava a própria morte precoce.

Ele não percebera, mas tinha sido o escolhido de Jesus a cumpri-la.

Então, cego dessa função pela própria fé, percebendo que o seu povo permaneceria oprimido, afinal, por amor e irmandade ao Rabi, ele buscou o mesmo fim.

É provável que o suicídio não tenha sido penitência suficiente.

Sob esta ótica, Judas aceita, humildemente, a malhação milenar.

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