quarta-feira, 7 de outubro de 2015

OMISSÃO x A MISSÃO


Eu devia ter uns 8 anos, não mais, mas a memória, aos 53, é viva e colorida.

No Citroen preto, estávamos todos passeando num dia claro e frio. Papai ao volante, mamãe ao lado, meu irmão e eu atrás, descendo a Av Professor Alfonso Bovero, no bairo do Sumaré, na Capital de São Paulo. Antes da Rua Aimberê, onde morávamos, meu pai parou o carro do lado esquerdo da avenida, pediu que nos apertássemos, abriu a porta e o morador de rua entrou.

Fomos pra casa, o homem negro tomou banho, recebeu alimentação, calçado e roupas (inclusive, uma malha de lã, com listas horizontais em vermelho e azul claro, que ele vestiu no ato), foi barbeado pelo meu pai e reconduzido ao local onde estava, ele e suas tralhas.

A Igreja Católica Apostólica Romana não foi apenas inquisidora. Ao contrário. Que saibam os jovens que ignoram, arrogantemente, a história.

Minha memória é ainda viva, provavelmente pela naturalidade com que meus pais agiram naquele dia. A mesma com que recebiam amigos nos jantares e festas que davam, fraternal e alegremente.

Entendo que, como pertencentes à mesma raça humana, todos nós podemos ter, ainda que ínfima, uma fagulha do mesmo gesto, dentro de cada um.

Porém, como cidadãos, com diversos afazeres importantes e cotidianos, é função do estado, havendo algum governo, que promova, estruture e organize os mecanismos para que o gesto dos meus pais, vivo em minha memória, sem vínculo religioso, seja prática constante. Até que tal realidade não exista mais.

Dias depois, no mesmo automóvel e trajeto, parados no semáforo, vimos o mesmo sujeito, novamente seminu, no mesmo local, sem a malha linda do meu pai, que disse:

"Fôssemos todos governados por Deus, estaríamos todos morando num paraíso."


(Em tempo 1: as fotos foram tiradas hoje, por mim, péssimo fotógrafo, na Av Brigadeiro Luis Antônio, quase esquina com a Al Santos, a uma quadra da Avenida Paulista, centro do PIB brasileiro. No lado esquerdo da calçada.)

{Em tempo 2: pra você, prefeito da vez, mas igual a todos os seus antecessores, um omisso: VTNC, seu pintador de asfalto do caralho! (Alívio... Adoro a passagem em que Jesus é agressivo com os vendilhões.)}