A forma e o conteúdo

Um cachorro-quente contém apenas dois ítens essenciais: pão e salsicha.

Mesmo simples, a forma que esse conteúdo deve ser apresentado é importante. Primeiro, uma fatia do pão, depois a salsicha e, por cima, a outra fatia do pão. Nesta ordem. A salsicha no meio. Eis a receita.

Você comeria um hot-dog que lhe fosse servido de outra forma? Tipo, pão, pão de novo, depois a salsicha, por cima?  Acho que sequer aceitaria, principalmente se a salsicha já estivesse cheia de mostarda, purê...

Embora claro o exemplo, são confusos os dias que vivemos.

De um lado, vemos a humanidade dando muito valor à forma. Ao corpo, à estética, super-atenta à saúde física, preocupada com o mundo exterior e suas necessidades concretas. Muitas vezes, ignorando seu conteúdo essencial, mesmo sob as aflições da angústia, obturadas por medicamentos.

De outro, a humanidade pratica conteúdos essenciais de qualquer forma.

Assim, homens e mulheres se relacionam de qualquer forma, têm filhos de qualquer forma e famílias nascem de qualquer forma; eleitores votam de qualquer forma, governantes tratam suas obrigações e o povo de qualquer forma, a mídia busca audiência de qualquer forma, empresas buscam o lucro de qualquer forma, busca-se o prazer de qualquer forma, remenda-se os erros de qualquer forma, consumimos de qualquer forma, descartamos de qualquer forma, todas as formas de educação são tratadas de qualquer forma.

Talvez por isso tantos tenham medo do caos. Embora poucos se disponham a colocar sua vida em ordem.