quinta-feira, 4 de outubro de 2012

De "Diniz" a Assis

Hoje é comemorado o dia de São Francisco de Assis, pelos católicos.

Dia seguinte da sua morte, 3 de outubro de 1226.

Antes de ser de Assis, ele era uma espécie de Francisco Diniz. Filho do comerciante mais rico da região.

Naqueles tempos, para um jovem burguês-mauricinho da classe AA, lutar nas Cruzadas era um símbolo importante de status, em vários níveis.

Oferecer sua presença pessoal, seu poder e riqueza, estruturados em guarida à comitiva e cavalaria, com  armaduras e armas,  a fim de conquistar ou proteger a terra santa, seguindo a vontade de Deus.

Se o nobre fosse, o pobre também iria. Tal conduta animava os desvalidos.

Na primeira Cruzada que participava, franzino que era, um ferimento mínimo, como uma flechada na bunda, o tirou da jornada e fê-lo voltar pra casa.

Sentindo-se humilhado, acamado por um ferimento ridículo, praguejou sua condição por dias, envolto em lençóis de linho, em sua cama king, abanado por mucamas, no seu amplo aposento, um dentre muitos do castelo feudal.

Pensava e maldizia o quão azarado era por estar ali, sozinho, enquanto todos os seus amigos, do bairro e da FAAP, lutavam em nome de Deus e nosso senhor Jesus Cristo, conquistando terras e honrarias.

Diariamente, enquanto lamentava, mais e mais pássaros entravam em seu quarto, pousavam no pé da cama e cantavam. A cada dia, mais pássaros, cantando cada vez mais alto.

Até que, irritado, antes de dar um pití-arrogante e espantá-los, parou e pensou:

"A missão divina essencial de todo e qualquer pássaro é voar e cantar.
Se não é estar naquela Cruzada, qual será a minha missão divina essencial, agora?"

A fim de descobrir a resposta, devolveu ao seu pai, ultrajado, seus trajes de luxo, mas não essenciais, despojando-se inclusive do sobrenome que lhe auferia valor e, nu, saiu à rua, em peregrinação, dizendo: de hoje em diante serei Francisco, de Assis, sua cidade.

(Ainda bem que ele não morava em Vladivostok. Ou, Itaquaquecetuba.)

Rapidamente envolto por um cobertor amarrado à cintura, indumentária atribuída aos Sacerdotes da Ordem Franciscana até hoje, logo compreendeu que a união de forças opostas é o segredo para a paz, o equilíbrio e a plenitude. Da grande riqueza ao despojamento total.

A oração atribuída a ele decanta essa máxima, pedindo que sejamos agentes da ordem e da paz, levando amor onde houver ódio, perdão onde houver ofensa, verdade onde houver erro, luz onde houver trevas e alegria onde houver tristeza.

Embora a maioria se omita de grandes atos, ainda levamos água para apagar o fogo incendiário, ainda lançamos boias aos afogados, ainda damos pão aos que têm fome.

("Compaixão é fortaleza. Ter bondade é ter coragem", diria, com razão, Renato Russo, um católico assumido.)

Tão poderosa foi a sua pregação e o resultado do encontro com a sua predestinação - um alquimista nas palavras e nas ações, em nome de Deus - que a Igreja Católica Apostólica Romana autorizou que houvesse uma ramificação Franciscana em sua instituição. O que não é pouca coisa.

Claro que, nesta hora, seu pai-Diniz ajudou.

É meu profundo e sincero desejo, neste mundo em que vivemos, que todos os (muito, muito) ricos parem e pensem, a fim de que utilizem todo o seu poder e fortuna para gerar equilíbrio e paz, em nome de todos os irmãos terrestres.

Pois, é dando que se recebe.

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