quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Memória Associativa

Quando vivemos uma experiência marcante, positiva ou negativa, normalmente ela permanece associada a coisas, pessoas ou circunstâncias que estavam presentes durante o fato.

Eu lembro exatamente onde estava, Av 23 de Maio, na altura do Edifício da IBM, quando liguei o rádio e ouvi, na CBN, que houvera os atentados às torres gêmeas, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001.

Minha primeira mulher estava de costas e de minissaia branca (ou seria amarela?), no dia em que a vi, pela primeira vez, em 1982. E ouvia Teatro dos Vampiros, da Legião Urbana, enquanto me arrumava pra sair, pela primeira vez, com a segunda mulher, há 15 anos.

Também me lembro da música que ouvia, Photograph, de Ringo Star, quando o pai de amigos teve um acidente grave, cortando a grama da própria casa. Fazia sol, eu estava à beira da piscina, e ele se socorreu de uma toalha branca.

Eu tinha 11 anos. Demorou mais do que isso pra voltar a ouvir a música sem me lembrar das cenas.

Outras situações, mais sofisticadas, positivas ou negativas, marcam demais as pessoas e coisas em volta do acontecimento a ponto delas ganharem mais importância do que o fato em si. Tal associação é nociva.

Num exemplo, algumas mulheres descobrem a sua sexualidade com determinado parceiro, um namoradinho recente. Daí passam a associar aquela sensação ao sujeito, a ponto de achar que, sem ele, não obterão mais a tal sensação. Colam no cara-que-é-só-aquilo e, normalmente, sofrem.

Noutro, durante uma transição importante da vida, como uma separação no casamento, ou uma demissão e recolocação no mercado de trabalho, surge uma pessoa nova que, gentil e amorosamente, ajuda no processo. Juntando-se à fragilidade, vulnerabilidade ou carência do fato em si, receita pronta para uma conexão afetiva exacerbada.

Normalmente, tais vivências devem ser individualmente percebidas e suas lições aprendidas, e não associadas a pessoas ou situações que envolveram o caso.

Nestes casos, a memória associativa faz com que a experiência interna, que seria rica à maturidade e crescimento, fique de fora, pendurada em algo ou alguém. Daí o apego.

Tal qual um amuleto.

(Pessoas também podem ser agentes da nossa sorte. São espécies de anjos, mas com outro tipo de amor. Passageiro.)

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