Quando vivemos uma experiência marcante, positiva ou negativa, normalmente ela permanece associada a coisas, pessoas ou circunstâncias que estavam presentes durante o fato.
Eu lembro exatamente onde estava, Av 23 de Maio, na altura do Edifício da IBM, quando liguei o rádio e ouvi, na CBN, que houvera os atentados às torres gêmeas, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001.
Minha primeira mulher estava de costas e de minissaia branca (ou seria amarela?), no dia em que a vi, pela primeira vez, em 1982. E ouvia Teatro dos Vampiros, da Legião Urbana, enquanto me arrumava pra sair, pela primeira vez, com a segunda mulher, há 15 anos.
Também me lembro da música que ouvia, Photograph, de Ringo Star, quando o pai de amigos teve um acidente grave, cortando a grama da própria casa. Fazia sol, eu estava à beira da piscina, e ele se socorreu de uma toalha branca.
Eu tinha 11 anos. Demorou mais do que isso pra voltar a ouvir a música sem me lembrar das cenas.
Outras situações, mais sofisticadas, positivas ou negativas, marcam demais as pessoas e coisas em volta do acontecimento a ponto delas ganharem mais importância do que o fato em si. Tal associação é nociva.
Num exemplo, algumas mulheres descobrem a sua sexualidade com determinado parceiro, um namoradinho recente. Daí passam a associar aquela sensação ao sujeito, a ponto de achar que, sem ele, não obterão mais a tal sensação. Colam no cara-que-é-só-aquilo e, normalmente, sofrem.
Noutro, durante uma transição importante da vida, como uma separação no casamento, ou uma demissão e recolocação no mercado de trabalho, surge uma pessoa nova que, gentil e amorosamente, ajuda no processo. Juntando-se à fragilidade, vulnerabilidade ou carência do fato em si, receita pronta para uma conexão afetiva exacerbada.
Normalmente, tais vivências devem ser individualmente percebidas e suas lições aprendidas, e não associadas a pessoas ou situações que envolveram o caso.
Nestes casos, a memória associativa faz com que a experiência interna, que seria rica à maturidade e crescimento, fique de fora, pendurada em algo ou alguém. Daí o apego.
Tal qual um amuleto.
(Pessoas também podem ser agentes da nossa sorte. São espécies de anjos, mas com outro tipo de amor. Passageiro.)
tipo eu, né, pai? anjo!
ResponderExcluiradivinha qual filho sou eu?