quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tentação


Na minha busca pela verdade superior, seguindo os axiomas de avatares, quando destrinchei o Pai Nosso, a única oração que Jesus, o Cristo, deixou aos homens, me deparei com uma frase que, durante muito tempo, achei fútil:

"Não nos deixeis cair em tentação."

Eu achava fútil porque, me conhecendo bem, jamais sucumbiria a nenhuma tentação.

Primeiro porque respeito a minha ética de forma inexorável. Depois, não suportaria, nunca mais, me olhar no espelho, se sucumbisse. E, como vaidoso de mim, não faria isso comigo.

Um dia, a tentação de mais de 1,80m, loira, surgiu-me face a face, quase nariz a nariz e, em décimos de apenas um segundo, acabei optando pela ética. Nunca mais achei aquela frase fútil... Jesus que me perdoe, todos estamos sujeitos.

Mas, o que queria escrever aqui é que ceder à tentação não é o grande problema. Sequer o principal.

Eu teria dado aquele beijo e, sem medo de errar, vivido o sexo mais poderoso e amoroso da minha vida. Calculando, teria sucumbido a uma tentação durante seis horas, aproximadamente.

O problema, o "pecado", a dor, viria depois.

Após o meu recuo, naqueles décimos de um mísero segundo... ela concordou comigo, recuou, desculpou-se e chorou. Éramos ambos casados e éticos, mas só eu estava bem casado.

Ela chorou porque ambos acreditávamos na fidelidade e monogamia como algo sólido e engrandecedor, conservantes de relações afetivas progressivas e duradouras. E isso não é pouca coisa.

Ela chorou porque sabia que, se sucumbíssemos, embora amorosamente, além de lidar com o fracasso e a ruptura definitiva de uma crença pessoal valorosa e importante, que muitos discursam, mas nem tantos praticam, viveríamos o remorso e a culpa de termos traído nossos cônjuges, e ambos não fazemos aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco.

Ela chorou porque teríamos que guardar aquela tentação, embora deliciosa, num baú solitário, hermético e escuro, onde só a nossa consciência, envergonhada, teria acesso. Pois, só covardes, querendo se aliviar da própria dor, contam o ocorrido aos cônjuges. Responsáveis aceitam e suportam sozinhos a dor de seus maus atos, calando imediatamente o discurso, antes ético, daquele momento em diante, pra sempre, pois só hipócritas não o fariam.

Não fossem aqueles décimos de um único segundo, ambos teríamos experimentado tudo isso durante seis décadas, aproximadamente.


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