segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Da Gema

Início de janeiro em São Paulo, cidade vazia.

Que delícia de cidade!

Rodando por ela em dia útil, a trabalho, como faço há 21 anos, identifico alegremente que quem aqui está, nessa época, é o paulistano típico, em essência.


Trabalha sem mimimi e tranquilamente. É prático, objetivo, usufrui da maior metrópole da América do Sul sem filas e, o melhor pra mim, é rápido.

Não importa a classe social e o horário, tampouco o veículo, quando está no trânsito transita, não passeia.


E há um código tácito entre todos, de respeito e solidariedade. Não ouvi buzina ou xingamento. Todo mundo transita pra chegar ao seu destino. Razão pela qual se transita, “ora pois!”, diria José de Anchieta ou Manoel da Nóbrega. 

E, o mais legal, todos sacaneando, natural e deliciosamente, os radares de velocidade espalhados pela cidade... "Numa boa", cantaria Caetano, ao homenageá-la.

Aqui, abraçamos tantos, de tantas partes e mundos, que o que é estressante e amedrontante pros misturados é um prazer pra nós, paulistanos puro-sangue. Uma singela anarquia cotidiana inocente. Como um jovem vigoroso, filho de ortopedista, ao subir e descer as escadas de dois em dois degraus.

Portanto, desejamos ser respeitados na nossa cidade. Somos paulistanos da gema.



Nunca fomos a capital Central do Brasil, mas somos a locomotiva mais poderosa. Deixem-nos passar. 


Paulistano cru, quando quer passear, andar devagar, ele sai da cidade, dos centros, do asfalto. Volta pras capitanias hereditárias, pros portos, pra mata e oceano atlânticos, todos santos.

Reza a missa que assim a cidade foi fundada, forjando a nossa história, a nossa cultura: a base de trânsito. 

Trânsito de mercadorias dos portos ao continente. Indo e vindo. Subindo e descendo. Todo santo dia, mesmo em dia santo. 

Trânsito da agricultura para a indústria. Virou polo industrial. O maior.

A indústria foi inventada para agilizar a manufatura. Fazer mais em menos tempo. Mudar rápido. Transformar. Crescer. Enriquecer. Desde então, jamais paramos.

E qual a principal indústria de São Paulo, historicamente? De automóvel. 

Então, por favor, não discuta conosco, apenas respeite a nossa tradição. Dê passagem. Aqui, a vocação inata é transitar. Sempre foi. 

E sempre será. Um DNA de 462 anos.

São Paulo de Janeiro, minha cidade, eu te amo!

Feliz aniversário!


(O atual prefeito misturado da cidade faz aniversário hoje. Carolina Ferraz, a atriz, também. Parabéns, Carolina!)

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