Que delícia de cidade!
Rodando por ela em dia útil, a trabalho, como faço há
21 anos, identifico alegremente que quem aqui está, nessa época, é o paulistano
típico, em essência.
Trabalha
sem mimimi e tranquilamente. É prático, objetivo, usufrui da maior metrópole da
América do Sul sem filas e, o melhor pra mim, é rápido.
Não importa a
classe social e o horário, tampouco o veículo, quando está no trânsito transita,
não passeia.
E
há um código tácito entre todos, de respeito e solidariedade. Não ouvi buzina ou
xingamento. Todo mundo transita pra chegar ao seu destino. Razão pela
qual se transita, “ora pois!”, diria José de Anchieta ou Manoel da Nóbrega.
E, o mais legal, todos sacaneando, natural e deliciosamente, os radares de velocidade espalhados pela cidade... "Numa boa", cantaria Caetano, ao homenageá-la.
Aqui, abraçamos tantos, de tantas partes e mundos, que o
que é estressante e amedrontante pros misturados é um prazer pra nós,
paulistanos puro-sangue. Uma
singela anarquia cotidiana inocente. Como um jovem vigoroso, filho de
ortopedista, ao subir e descer as escadas de dois em dois
degraus.
Portanto, desejamos ser respeitados na nossa cidade. Somos
paulistanos da gema.
Nunca fomos a capital Central do Brasil, mas somos a
locomotiva mais poderosa. Deixem-nos passar.
Paulistano cru, quando quer
passear, andar devagar, ele sai da cidade, dos centros, do asfalto. Volta pras
capitanias hereditárias, pros portos, pra mata e oceano atlânticos, todos
santos.
Reza a missa que assim a cidade foi fundada, forjando a nossa
história, a nossa cultura: a base de trânsito.
Trânsito de mercadorias
dos portos ao continente. Indo e vindo. Subindo e descendo. Todo santo dia,
mesmo em dia santo.
Trânsito da agricultura para a indústria. Virou polo
industrial. O maior.
A indústria foi inventada para agilizar a
manufatura. Fazer mais em menos tempo. Mudar rápido. Transformar. Crescer.
Enriquecer. Desde então, jamais paramos.
E qual a principal indústria de
São Paulo, historicamente? De automóvel.
Então, por favor, não discuta conosco, apenas respeite a nossa tradição. Dê passagem. Aqui, a vocação inata é transitar. Sempre foi.
E sempre será. Um DNA de 462 anos.
São Paulo de Janeiro, minha
cidade, eu te amo!
Feliz aniversário!
(O atual prefeito misturado da cidade faz aniversário hoje. Carolina Ferraz, a atriz, também. Parabéns, Carolina!)
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