quarta-feira, 18 de maio de 2016

Xing-Ling

Hoje, atendi à uma cliente que está no sul da China comunista.

Leitura de tarô.

Uma bela jovem ímpar que, ao completar 30 anos, em 2015, resolveu sair da sua vida (muito mais do que "zona") de conforto, abrindo mão de bom emprego e vida estável, perto da família - ela tem o Sol e o Ascendente em Câncer - apesar de morar sozinha há tempos, e partir para a sua predestinação macro: dar o que tem a quem não tem, pelo mundo, em corpo mente e alma.

Uma espécie de franciscana mestiça. Espanhola e japonesa, nascida no Brasil. Levando alegria aos tristes, livros infantis a crianças sem história, dando o português e recebendo o mandarim, e, de maneira geral, fazendo justiça, buscando o (eterno) equilíbrio de forças opostas, sem brigar com ninguém, mas convencendo, com seus atos e sorrisos, verdadeiros e sensíveis.

Papo bom, ela me contou muitas coisas. Está numa cidade que se transformou num polo de sapatos e bolsas, uma espécie de Franca local. Polo industrial e de prostituição. No começo, só os homens foram pra lá, então... Segundo ela, já não existem mais as moças que oferecem seus serviços na rua.

Há shoppings com lojas internacionais, como aqui. O preço de uma roupa na Zara de lá é o mesmo daqui! Fico imaginando o lucro da Zara de lá... Pior, ela disse que, pra pagar mais barato, tem que ir no camelô, comprar produto "xing-ling"! Isso mesmo. (Dois minutos para você rir e fazer a cara de quem não entendeu direito a lógica da coisa, assim como eu.)

Por outro lado, eles não se cumprimentam.

São diretos. Lá, não existe o "bom dia, tudo bem?". Lá, no primeiro contato, eles falam: "já comeu, hoje?". De tanta fome que já passaram e a inclinação a alimentar o próximo.

Lá, também não há tradução para "por favor", obrigado"e "desculpas".

Mesmo em Pequim, a pessoa toma o que está na sua mão e que você já ia entregar... Dois chineses conversando, na rua, dão a impressão que vão sair na porrada, a qualquer momento. Agressivos, não passionais como italianos e portenhos.

Na praia, usam roupa de banho. Literalmente. Ela usou biquini, virou celebridade. Um bilhão fizeram bilhões de selfies com ela.

Um conhecido do trabalho, ao ser identificado por outro como tendo a mesma cor dela, deixou claro: "eu sou amarelo, ela é negra". Pejorativamente.

No geral, os homens meio que desprezam as mulheres. Ao contrário, as jovens chinesas tratam o homem bem, principalmente os estrangeiros, na esperança de que possam mudar de vida, sair da China.

Imersa na cultura desse povo antigo, há muito sob o regime comunista, fechado, censurado e bem monitorado, a jovem cliente, às vezes, tem a sensação de que "voltou no tempo".

Será?

O ontem ainda é hoje no cenário mundial. A classe média que enriquece na China, apesar de comunista, está comprando o mundo, assim como os antigos povos ricos fizeram no passado, e fazem no presente, quando olham para os terceiros mundos.

Afinal, Stephen Hawking tem razão: o tempo é xing-ling.

O mundo (ainda) é xing-ling.

Somos todos iguais.

Sejamos originais.

(foto da abril.veja.com.br)


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