domingo, 19 de agosto de 2012

Aventura é viver

O suicida não obtém o alívio da sua dor quando se encontra com a morte.

Simplesmente porque o espírito não morre.

O que morre é o corpo. O espírito e a mente, pra que tenha consciência, permanecem.

Os anseios da carne são a principal razão para que afastemos a mente do espírito. Religião é refazer essa ligação.

Melhor, buscar em todas as ações físicas um acordo entre o desejo carnal e o propósito espiritual é a bem-aventura de viver.

Essa explicação talvez bastasse a um adulto.

Mas, para um adolescente que pensa e se comporta, veladamente, como um pré-suicida, por causa de uma desilusão amorosa utópica, não seria suficiente.

Ninguém da família havia percebido o comportamento. Ele foi se revelando durante a primeira consulta e, de repente...

Ao falar da menina, bem mais velha, que recusou o pedido de namoro, ele deu uma guinada e disse: "sabe o que eu costumo fazer?" E, dum impulso, sentou-se no parapeito da sacada do seu quarto, com uma revista na mão, no 16º andar.

Ele estava me revelando o que pensava fazer, mas temia.

Para ele, expliquei (depois que ele desceu dali...):

Se seu desejo for cair, imagine uma grande melancia se espatifando no térreo. O que for vermelho serão seus órgãos espalhados em sangue. Seu espírito vai se descolar do corpo, mas vai permanecer de pé, ao lado dele. Todos os seus Anjos da Guarda surgirão, visíveis, tristes, e você saberá, instantaneamente, todas as possibilidades que perdeu dando fim à vida. Então, a menina, razão pela qual se matou, vai chegar e ver o que lhe aconteceu. No mesmo momento, seus pais também chegarão no térreo. E você vai assistir à dor de todos eles. A culpa daquela menina, que você diz que ama, vai fazê-la sofrer por anos. E, você, diante deste cenário, vai ter um sentimento que explica a Lei do Carma: arrependimento. Um desejo tão desesperado quanto inútil de voltar atrás.

Funcionou pra ele.

Funciona pra todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário